quinta-feira, 8 de setembro de 2016






O fazendeiro estava pagando R$ 300 para quem conseguisse pegar a onça que estava comendo os bezerros da fazenda. Apresentou-se o compadre, pobre, necessitado, e foi se oferecendo pro serviço. Magrinho, pés no chão, chapéu e cigarro de palha, lá foi ele mata adentro, levando na mão a foice de roçar, e na cintura a garrucha de dois canos. Certa hora deu de cara com a pintada. Estava muito perto para que ele pudesse planejar o ataque. Quando a “marvada” partiu em sua direção, largou de seus apetrechos e danou-se a correr. E a onça atrás... O fazendeiro estava sentado na varanda aguardando o cair da tarde, quando vê o “cumpadre” chegar correndo sendo perseguido pelo felino. Por sorte, na hora que a onça dá o bote, ele tropeça numa pedra e cai. A onça voou por cima e caiu no terreiro, bem em frente à porta do fazendeiro. Aí o mineirinho caçador de onça gritou:

- Sigura essa aí, “cumpadi”, que eu vô buscá mais outra!


  

A Árvore que Dá Caneta

LEOMAR BARALDI O seu Gonçalves recebeu o sobrinho para uma temporada de férias no sítio. Era sempre assim, quando entrava de férias o sobrinho Eurico vinha para o interior. Andando pelos campos, sabe como é estudante em férias, onde o tio ia ele ia atrás. Tinham ido levar sal para um gado que ficava num pasto distante da sede da propriedade. Era de tarde, e para aproveitar bem a presença no campo, que é sempre agradável, eles foram e estavam voltando a pé. Desde que deixaram o pasto, o sobrinho deu de testar a inteligência do tio. O tio caía em todas. Assuntos de física quântica, física não sei das quânticas, pressão tromosférica, urânio, bomba atômica. E o sobrinho ia tirando uma com o tio em todas. O tio só de rabo de olho nele. E o sobrinho perguntava se o tio sabia o que era cálcio, e o tio não sabia, e era aquela gozação. Passando próximos de uma árvore bem folhada e frondosa, o tio parou e falou: -Sobrim, ta veno essa arve? -Estou sim, tio. -Essa arve dá caneta. -Ah, tio, é invenção sua! -To ti falano, essa arve dá caneta. -Não acredito! -To te falano. U teu tio ia minti pro ce! Vai lá di baxo e conferi. É qui já foi u tempo de caneta, mais as veis o ce consegue vê arguma qui num caiu. O sobrinho foi até embaixo da árvore. Deu certo que era uma amoreira em fim de tempo de amora, tinha só umas espalhadas aqui e ali. Deu certo que tinha um sanhaço num galho acima, e sabe como é, deu uma soltada, sabe como é passarinho, não sabe segurar vontade. Tpéf! Uma daquelas borradas de acertar em cheio. Bem no ombro do sobrinho. Uma roda assim azulada da fermentação das amoras que ele tinha comido. O seu Gonçalves não agüentou, já logo gritou: -Ah meu sobrinho, acontece de arguma tá sem tampa!

Fordinho 29
Dito Preto, um amigo meu, caminhãozinho Ford 29 para puxar cana na Fazenda. Tinha comprado à prestação, mas o Fordinho estava acabado. Ele trabalhava com o caminhãozinho Fordeco durante a semana e no sábado colocava as varas no caminhãozinho e ia pescar. Naquele sábado, ele já tinha tomado 'umas e outras' e ia indo para o Rio Sapucaí. No meio da estrada, apareceu um guarda rodoviário. O policial fez sinal para ele parar. Dito Preto foi indo com o caminhãozinho pelo acostamento. 'Beeeeeeem' lá na frente parou. O guarda chegou e disse: - Deixa eu ver a carta... ...de motorista. - Seu guarda, não vou enganar o senhor. Não vou dizer que tenho carta porque eu não tenho. Comprei esse caminhãozinho para puxar cana na fazenda e ainda não deu pra comprar a... ...carta. - Então deixa eu ver o documento do caminhão. - Seu guarda, não vou enganar o senhor. Não vou dizer que tenho documento porque não tenho. Ainda não comprei não, senhor. - Não tem carta, não tem documento... - Mas todo mundo me conhece por essas bandas, seu guarda. É só perguntar. Todo mundo sabe que o caminhãozinho é meu. Quando tiver tempo, vou comprar a carta e o documento lá com o delegado. - Então acende os faróis. - Vai desculpar, seu guarda, mas o direito não tem. E o esquerdo tá queimado. - E a buzina? - Não vou dizer pro senhor que tenho, porque não tenho. Comprei o caminhãozinho à prestação e não deu pra colocar a buzina. - E o breque? Pelo menos o breque, o senhor... ...tem? - O senhor acha que se eu tivesse breque não tinha parado lá atrás, quando o senhor mandou?.
por Rolando Boldrim




Nenhum comentário:

Postar um comentário