O fazendeiro estava pagando R$ 300
para quem conseguisse pegar a onça que estava comendo os bezerros da fazenda.
Apresentou-se o compadre, pobre, necessitado, e foi se oferecendo pro serviço.
Magrinho, pés no chão, chapéu e cigarro de palha, lá foi ele mata adentro,
levando na mão a foice de roçar, e na cintura a garrucha de dois canos. Certa
hora deu de cara com a pintada. Estava muito perto para que ele pudesse
planejar o ataque. Quando a “marvada” partiu em sua direção, largou de seus
apetrechos e danou-se a correr. E a onça atrás... O fazendeiro estava sentado
na varanda aguardando o cair da tarde, quando vê o “cumpadre” chegar correndo
sendo perseguido pelo felino. Por sorte, na hora que a onça dá o bote, ele
tropeça numa pedra e cai. A onça voou por cima e caiu no terreiro, bem em
frente à porta do fazendeiro. Aí o mineirinho caçador de onça gritou:
- Sigura essa aí, “cumpadi”, que eu vô buscá mais outra!
A Árvore que Dá Caneta
LEOMAR BARALDI O seu Gonçalves
recebeu o sobrinho para uma temporada de férias no sítio. Era sempre assim,
quando entrava de férias o sobrinho Eurico vinha para o interior. Andando pelos
campos, sabe como é estudante em férias, onde o tio ia ele ia atrás. Tinham ido
levar sal para um gado que ficava num pasto distante da sede da propriedade.
Era de tarde, e para aproveitar bem a presença no campo, que é sempre
agradável, eles foram e estavam voltando a pé. Desde que deixaram o pasto, o
sobrinho deu de testar a inteligência do tio. O tio caía em todas. Assuntos de
física quântica, física não sei das quânticas, pressão tromosférica, urânio,
bomba atômica. E o sobrinho ia tirando uma com o tio em todas. O tio só de rabo
de olho nele. E o sobrinho perguntava se o tio sabia o que era cálcio, e o tio
não sabia, e era aquela gozação. Passando próximos de uma árvore bem folhada e
frondosa, o tio parou e falou: -Sobrim, ta veno essa arve? -Estou sim, tio.
-Essa arve dá caneta. -Ah, tio, é invenção sua! -To ti falano, essa arve dá
caneta. -Não acredito! -To te falano. U teu tio ia minti pro ce! Vai lá di baxo
e conferi. É qui já foi u tempo de caneta, mais as veis o ce consegue vê arguma
qui num caiu. O sobrinho foi até embaixo da árvore. Deu certo que era uma
amoreira em fim de tempo de amora, tinha só umas espalhadas aqui e ali. Deu
certo que tinha um sanhaço num galho acima, e sabe como é, deu uma soltada,
sabe como é passarinho, não sabe segurar vontade. Tpéf! Uma daquelas borradas
de acertar em cheio. Bem no ombro do sobrinho. Uma roda assim azulada da
fermentação das amoras que ele tinha comido. O seu Gonçalves não agüentou, já
logo gritou: -Ah meu sobrinho, acontece de arguma tá sem tampa!
Fordinho 29
Dito Preto, um amigo meu,
caminhãozinho Ford 29 para puxar cana na Fazenda. Tinha comprado à prestação,
mas o Fordinho estava acabado. Ele trabalhava com o caminhãozinho Fordeco
durante a semana e no sábado colocava as varas no caminhãozinho e ia pescar.
Naquele sábado, ele já tinha tomado 'umas e outras' e ia indo para o Rio
Sapucaí. No meio da estrada, apareceu um guarda rodoviário. O policial fez
sinal para ele parar. Dito Preto foi indo com o caminhãozinho pelo acostamento.
'Beeeeeeem' lá na frente parou. O guarda chegou e disse: - Deixa eu ver a
carta... ...de motorista. - Seu guarda, não vou enganar o senhor. Não vou dizer
que tenho carta porque eu não tenho. Comprei esse caminhãozinho para puxar cana
na fazenda e ainda não deu pra comprar a... ...carta. - Então deixa eu ver o
documento do caminhão. - Seu guarda, não vou enganar o senhor. Não vou dizer
que tenho documento porque não tenho. Ainda não comprei não, senhor. - Não tem
carta, não tem documento... - Mas todo mundo me conhece por essas bandas, seu
guarda. É só perguntar. Todo mundo sabe que o caminhãozinho é meu. Quando tiver
tempo, vou comprar a carta e o documento lá com o delegado. - Então acende os
faróis. - Vai desculpar, seu guarda, mas o direito não tem. E o esquerdo tá
queimado. - E a buzina? - Não vou dizer pro senhor que tenho, porque não tenho.
Comprei o caminhãozinho à prestação e não deu pra colocar a buzina. - E o
breque? Pelo menos o breque, o senhor... ...tem? - O senhor acha que se eu
tivesse breque não tinha parado lá atrás, quando o senhor mandou?.
por Rolando Boldrim
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